Translate

quarta-feira, 12 de julho de 2006

Ticket

Olhei para suas mãos limpas, claras, ossudas. Ele argumentava com a coitada do outro lado do balção; tentava tirar vantagem utilizando seu charme prepotente de 'pessoa mais ou menos conhecida'.

Todos nós estávamos na mesma situação de espera, de paciência. Mas ele não: ele e suas mãos limpas, claras, ossudas, tinham que ter prioridade. Pareceu emprestar autoridade à sua personalidade irritante mas a moça deve ter dito algo como 'não posso, senhor, sinto muito', enquanto apertou um sorriso falso que indica claramente que 'sinto muito' deve ser interpretado como 'o problema é seu, idiota', embora a moça não possa dizer isso porque A Companhia não permitiria. Ele agradeceu com alguma careta desagradável e lhe devolveu um aceno com a cabeça.

Apertou o seu ticket no bolso e caminhou uns passos passeando os olhos entre o chão e as janelas amplas e vazias. A sua genialidade deveria ser alguma característica tão ínfima, tão pouco acima da média, que era quase igual a todo o mundo. Talvez por isso a sua insistência, a sua irritação algo confusa e alarmante, como se ficar a um passo da nossa pobre existência o fizesse recordar um passado não tão remoto.

É possível que nos gramados, ou no palco, essa aparente ínfima diferença seja responsável por um resultado espetacular, rimbombante, glorioso, trinufal, épico, ele e suas malditas mãos ossudas. Mas aqui não. Aqui engoliria o ticket e teria que fazer a mesma cara vazia que a nossa.

A minha mediocridade sorriu.

domingo, 18 de junho de 2006

Matemática das cítaras estrambóticas

Um dos rituais mais esquisitos dos nativos de Hi-Brazil é o julgamento dos tocadores de cítara estrambótica. O ritual é uma avaliação para determinar se o tocador será adorado ou castigado; se adorado, pedem seu rabisco em folhas de bananeira, lhe oferecem daikiris de amarula e belas mulheres para amaciar seu umbigo. Se castigado, é pisoteado até a morte pelos furiosos elefantes vesgos da crítica musical, ou vai para a poça de lama mais próxima. E é esquecido lá.

Após vários estudos, ficou claro que os tocadores de cítara estrambótica são classificados numa escala matemática simples que obedece a seguinte fórmula:

( R * C ) K (R vezes C elevado a K)

onde R é o número de riffs de cítara bem concluídos, C é a quantidade de codas com algum conteúdo relevante, e K é o coeficiente de IMPRO, ou Índice Maleável de Punheta Relativamente Oca. Sendo que a multiplicação de R por C é elevada a K, este é o coeficiente mais importante para saber se o tocador de cítara estrambótica será colocado no coqueiro com vista para o mar ou jogado para a poça de lama fedorenta para ser ritualmente pisoteado.

E é desse jeito que todo tocador de cítara estrambótica recebe um número resultante da fórmula; Seven Vaias ou Ken Glichors da banda ‘Krigga e seus Bundolos’ recebem notas altas como 738 ou 821, enquanto outros com taxas IMPRO estatisticamente baixas como Robert Grippos ou Eric Claxton recebem só 24.

Mesmo assim os nativos de Hi-Brazil parecem se divertir mais no seu julgamento do que ouvindo a cítara estrambótica. Matemática simples.


terça-feira, 28 de fevereiro de 2006

Para mover La Rueda

No salía. No salía nada.

Pensaban en un dragón, pero aparecía un perro con humo bostezando con algo en la boca, carbón quién sabe. Rescataban de las catacumbas a un viejo héroe, le arrancaban esa ropa inmoral y sucia, lo mandaban bañarse, le hacían otra ropita adorable y nueva, igual a la anterior pero un poco más inmoral, insertaban algunos remaches en las juntas.

Pero al cabo de media hora el frankie-dientes-y-patilla se desplomaba en un estrondo sordo, el polvo agitado quedaba como una nube de desazón. Y todo comenzaba de nuevo.

Algunas corbatas comenzaron a llamar e indagar y agitar sus puños blancos y sus pitillos humeantes. Amenazaron con pastillas, y luego con la falta de pastillas. Hasta que de un puño un dedo enorme y flaquete y largo y lleno de callos y una uña larga y curva acabó por señalar La Rueda; ya no giraba como antes, se movía despacio en la inercia. La rueda, señores, se estaba parando, y las así las corbatas se escondieron en la sombra.

Alguien tuvo la idea de zamarrear aquel viejo pirata que había sido capturado cuando joven. En sus buenos tiempos mozos se decía que atravesaba los mares soplando él mismo sus velas; quién sabe si soplase, soplase, La Rueda se moviese por lo menos lo suficiente como para tomar impulso y continuar sola.

Pero el pobre pirata, por más que intentase soplar, no era que no tuviese aire,
más bien es como si eructase una brisa suave. La Rueda ni fu.

Pero ese enano (que no era tan enano sino más bien reducido a su pequeñez por la pequeñez de las circunstancias), ese enano que supo ser consejero de una corbata rojiazul muy importante tiempo atrás, ese enano creyó vislumbrar el problema. Porque viejos héroes aún intentaban desfilar sus ropichas en el mismo estilo de siempre, y viejos aún, peor conseguirían hacer a La Rueda. La cosa era llamar cualquier cosa, pero que desfilase con otro estilo.

Se hicieron simposios sobre el Nuevo Estilo de Caminar para mover La Rueda. Hamsters desfilaron en un vals rápido y con piruetas y hamsters-caballos y hamsters-cowboys. Luego arrancaron los pelos a algunos hamsters y los pusieron juntos en una casita, a ver cómo se mataban por comida, y de paso ver sus piruetas venticuatro por siete.
Hamsters hicieron pactos con hamsters, hamsters corrieron y corrieron en sus jueguitos de eliminar exceso de adrenalina, hamsters traicionaron hamsters, y hamsters amaron otros hamsters, aunque no haya habido noticia de hamstercitos; pero hubo muchas nuevas definiciones del amor entre hamsters, y al final eran todos especialistas en piruetas de hamsters. Y La Rueda llegó a hacr ploc, continuó pero como que parando.

Los últimos espasmos de la Rueda fueron con un pequeñuelo dueño de una mansión llena de juguetes: pelotas silitrónicas, bambis cibernéticos de ojos azules sin iris que cantaban músicas por un CD en su lomo, estroboluces de neón, hielo seco, ejércitos de soldaditos de plomo, de plástico, de madera, cañoncitos, y principalmente dinosauritos de mentira soltando peditos sabor lavanda y haciendo aquel 'roaaarrrr' de mentira que asustaba niñitos y enternecía adultos.

"El tríptico" dijo un pianista. "El tríptico se acaba", pero nadie lo escuchó.

Fue parar La Rueda que las corbatas comenzaron a mirarse para saber que no había alternativa: reducir corbatas era la orden. Como peces furiosos, se engulleron unas a otras hasta que quedó una corbatona amarillenta y regordeta, que acabó por temblar, temblar, mirar a todos lentamente y vomitar un río de corbatitas pequeñitas y con sus propios anteriores tonos en amarillento. La saludaban, la llevaban de aquí para allá.

Jugaba con una navaja, cerrándola y abriéndola, cosa peligrosa. Un día iría cortar las cuerdas de la maldita Rueda. Pero seguro que sería encarcelado como había sucedido con el pirata, con los héroes de pacotilla, seguro que alguna corbata evocaría los Buenos Tiempos de La Rueda y mandaría a que las Hormigas Ciegas la reconstruyesen.

Y la luna llena de sangre continuaría a reírse sin parar.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

No momento que respirei novamente, senti que o ar não chegava. Imaginava porquê. Mas não adiantaria mexer a cabeça, iria doer ainda mais, e não conseguiria ver, mas o estranho calor no peito era suficiente. Em algum ponto da garganta, sangue e ar estavam saindo juntos, e me restavam alguns minutos de vida enquanto me afogava nos meus líquidos.

Não poderia te dizer o que precisava, pois não podia mais falar. Então fechei os olhos, esperei a cabeça parar de latejar e juntei forças enquanto a minha lingua se enchia de algo quente com gosto de entranhas.

Por isso, assim que abri os olhos, assinalei os meus óculos na mesa. Não o copo, os óculos. Precisava que soubesses que estavam aí. E ao mesmo tempo que não vejas que escondia atrás de mim o estojo. Precisavas mudar algo naquela cena, e teria a esperança de que alguém reparasse nisso.

No fundo, sabia por quê morria. Fui um turrão, e incentivei tua ambição, reduzi teus escrúpulos. Por quê haveria de pensar que serias diferente comigo ? Mas no fundo, queria que te desses bem, embora me sentisse ignorado a maior parte do tempo. Sei que não o sabias. Na minha aparente insolência, no meu desprezo a tuas demonstrações de esperteza, te admirava. Mas não sabia como fazê-lo então te agredia, esperando resposta. Mas me ignoravas.

Até agora, achava isso.

Então agora tu sabes. Se estiveres na cadeia um dia, e disseres 'maldito calhorda, nem quando morreu me deu uma chance', tu sabes agora. Te admiro, cadela.

Ah, mais ar...

sábado, 14 de janeiro de 2006

Da série 'Universo-Meu-Umbigo'

"Urano rege os chacras de nossas glândulas sexuais e toda alteração vibratória deste corpo sideral produz profundas revoluções em nossa sexualidade. Urano possui uma característica única em todos os 12 planetas do sistema solar de Ors, que é a de direcionar, a cada 43 anos, um de seus pólos geográficos e magnéticos em direção ao sol. Ou seja, Urano mostra seu pólo norte durante 43 anos e depois o pólo sul por mais 43 anos. Isso gera um aspecto muito importante na evolução social na Terra, que é a o predomínio de um sexo sobre outro."

Extraído de Magia Cósmica, onde também lemos que :

Essas três pirâmides sagradas, que não são meros túmulos, como afirma a ciência materialista e ridiculamente cética, foram construídas numa posição que é absolutamente idêntica à das Três Marias, que ficam na direção de Órion.

Alguém pode explicar a esse cara que a mesma ciência materialista foi a que descobriu Urano ? E depois previu, pela gravidade newtoniana, que haveria outro planeta, Netuno ?

O legal é que esse suposto alinhamento das Três Marias (cinturão de Órion) seria correto uns oito mil anos antes da construção das pirâmides. Agora fiquei curioso com o sistema solar de Ors...

sábado, 7 de janeiro de 2006

Interesses

Retirado de biografias de físicos:
"A propósito dessas descobertas no campo da indução eletromagnética, consta que Gladstone, primeiro-ministro britânico, teria perguntado ao cientista: "Senhor Faraday, isto tudo é interessante, mas qual é sua utilidade?" Ao que Faraday respondeu secamente: "Talvez, senhor, esta descoberta dê lugar a uma grande indústria, da qual o senhor possa arrecadar impostos"."