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quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

No momento que respirei novamente, senti que o ar não chegava. Imaginava porquê. Mas não adiantaria mexer a cabeça, iria doer ainda mais, e não conseguiria ver, mas o estranho calor no peito era suficiente. Em algum ponto da garganta, sangue e ar estavam saindo juntos, e me restavam alguns minutos de vida enquanto me afogava nos meus líquidos.

Não poderia te dizer o que precisava, pois não podia mais falar. Então fechei os olhos, esperei a cabeça parar de latejar e juntei forças enquanto a minha lingua se enchia de algo quente com gosto de entranhas.

Por isso, assim que abri os olhos, assinalei os meus óculos na mesa. Não o copo, os óculos. Precisava que soubesses que estavam aí. E ao mesmo tempo que não vejas que escondia atrás de mim o estojo. Precisavas mudar algo naquela cena, e teria a esperança de que alguém reparasse nisso.

No fundo, sabia por quê morria. Fui um turrão, e incentivei tua ambição, reduzi teus escrúpulos. Por quê haveria de pensar que serias diferente comigo ? Mas no fundo, queria que te desses bem, embora me sentisse ignorado a maior parte do tempo. Sei que não o sabias. Na minha aparente insolência, no meu desprezo a tuas demonstrações de esperteza, te admirava. Mas não sabia como fazê-lo então te agredia, esperando resposta. Mas me ignoravas.

Até agora, achava isso.

Então agora tu sabes. Se estiveres na cadeia um dia, e disseres 'maldito calhorda, nem quando morreu me deu uma chance', tu sabes agora. Te admiro, cadela.

Ah, mais ar...

Um comentário:

  1. Wow Julian! Grata surpresa essa texto. Densidade gostosa. Parabéns pessoa.

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